Não existe poesia na superfície das letras
Tampouco nas regras de metrificação

Vejo a poesia
Quando minha cachorra sorri para mim
Não latindo              
Mas de braços abertos
Mostrando-me o quão humano
Pode ser o sorriso de um animal

A poesia está no corpo do homem que amo
Quando trocamos fluidos
Quando o gosto amargo do seu corpo
Atravessa minhas papilas gustativas
E me preenche com o amor
Dos líquidos que ele fabrica
Quando tornamo-nos um só

Não há poesia na superfície estrelada das letras
Tampouco em rimas engessadas
De canções supostamente populares

A poesia está na ponta dos meus dedos
Atravessa riso, rio e falange
E escoa livre e marginalmente
Por minha trama neural

A poesia está impressa no meu colchão
Quando termino, completa e desfalecidamente
Mais um ato sexual
A poesia está no baixo-material

Não há poesia na superfície congelada das letras
Tampouco é para ser decassílabamente construída

A poesia está no beijo do homem que amo
Está no perfeito encaixe de nossos corpos
Que antropofagicamente
Nos faz humanos
Nos faz um  do outro

Não há poesia na superfície camoniana das letras.



Egberto Vital

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