Jogos Vorazes: uma reflexão contemporânea sobre a Sociedade do Espetáculo

Acabei de ler o livro Jogos Vorazes, o primeiro livro da saga escrita por Suzane Collins, autora estadunidense que teve seu trabalho reconhecido mundialmente após a adaptação de suas obras para o cinema. Suzane iniciou sua carreira como roteirista de programas infantis do canal fechado Ni

ckelodeon e se tornou uma das autoras mais lidas da contemporaneidade após a publicação dos livros Jogos Vorazes, Em Chamas e A Esperança.
Jogos Vorazes é um livro todo escrito em primeira pessoa, sob a ótica de um narrador autodiegético, ou seja, um narrador-personagem o qual é o protagonista da história – nesse caso a fantasticamente construída Katniss Everdeen –, o que traça à narrativa nuances autobiográficas, visto que Katniss relata suas próprias experiências e as experiências de outrem sob sua perspectiva.
Em uma das distopias mais bem construídas dos anos 2000, bem como uma das melhores obras dessa geração de autores para jovens-adultos, Collins enceta um mundo pós-revoluções, em que toda a América do Norte sofreu uma reorganização econômica e política, e, consequentemente, o mundo inteiro sofreu com tais reformulações sociais – a pesar da narrativa se centrar no norte das Américas.
 O nosso cenário principal é o da nação de Panem, não temos um tempo muito bem definido, mas sabe-se que se passa após a destruição da América do Norte em um futuro distante e apocalíptico. Panem é formada por uma cidade central – a Capital – que detém o controle de 13 distritos, o 13º deles fora destruído após uma rebelião que levou a criação dos Jogos Vorazes, um evento anual que consiste em um controle social, no qual cada distrito deve enviar à Capital dois tributos, duas crianças/adolescentes, uma de cada sexo, para lutarem em uma arena até a morte, com o intuito de lembrar o poder que a Capital exerce sobre os distritos e como, por conta da rebelião, o distrito 13 foi destruído.
E a história dos nossos protagonistas desvela-se nesse ambiente de caos e conflitos internos. Incialmente Katniss descreve sua vida na Costura, a região mais precária do distrito mais pobre de Panem, o Distrito 12, região de carvoeiros que trabalham o ano inteiro para fornecer seus produtos à Capital. A protagonista descreve uma vida muito sofrida, órfã de pai, assumiu o controle da casa após sua mãe entrar em depressão com a perda do marido em uma explosão, Katniss além de assumir a responsabilidade pela casa e pela sua manutenção tem de cuidar e educar sua irmã, a jovem Prim. Todos os dias ela sai à caça juntamente com seu amigo Gale, burlando as leis do distrito que a proíbem de caçar na floresta, porém ela conta com as vistas grossas dos Pacificadores – espécie de policiais enviados pela Capital para manter o controle –, uma vez que ela fornece caça e outros produtos para alguns deles.
O drama da personagem inicia-se no Dia da Colheita, evento em que a Capital envia representantes para selecionar os jovens que participarão dos Jogos Vorazes, e, para a má sorte de Katniss, sua irmã Prim, de apenas 12 anos, é selecionada, nossa heroína não titubeia em se oferecer como voluntária no lugar da sua irmã, o que gera uma verdadeira comoção entre as pessoas do Distrito 12, sem saber, Katniss encetava, ali, uma rebelião. Para a surpresa de Katniss menino escolhido para ir junto com ela para os Jogos Vorazes é Peeta, um jovem rapaz filho do padeiro, com quem ela tem uma história a qual guarda em segredo, que será descoberta ao longo dos angustiantes capítulos que sucedem a colheita, inicia-se, assim, um triângulo amoroso, Katniss se verá, futuramente, dividida entre Peeta e Gale.
E assim é dado início aos Jogos Vorazes, a narrativa passa a ter outra ambientação, inicialmente locada na Capital, onde os Tributos são apresentados aos espectadores do “reality show”, e após concentra-se na arena onde os escolhidos lutarão até a morte para sobreviver à barbárie promovida pela Capital. Toda a narrativa voltasse para a “história de amor” entre Peeta e Katniss e sua luta pela sobrevivência em um ambiente hostil em que são caçados feito animais pelos outros tributos. As atitudes de nossos protagonistas são cruciais para o desenvolvimento do enredo e para as narrativas futuras da trilogia – Em Chamas e A Esperança –, uma vez toda a rebelião contra a Capital surge após a atuação de Peeta e Katniss nos Jogos Vorazes.
Suzanne Collins trata com primazia a Sociedade do Espetáculo, é interessante sabermos a origem dessa Saga, pois ela surge de um momento de reflexão da autora que, em casa, refletia sobre os programas de entretenimento veiculados na TV, enquanto um canal mostrava os ataques americanos ao Iraque, em outros canais as pessoas se divertiam com reality shows como o Big Brother, daí surge os Jogos Vorazes, uma obra que reflete acerca da frivolidade do homem pós-moderno.
Um livro gostoso de ler, com uma linguagem acessível a todos os públicos e que segura o leitor do início até o fim, sem interrupções, com diversos momentos de clímax, um livro que lhe faz rir e chorar, que, mesmo nas cenas de carnificina e escatológicas, a autora sabe respeitar o leitor o poupando de imagens grotescas, tudo fica à favor da imaginação do leitor, que monta, a partir de sequencias extremamente imagéticas, as cenas e os ambientes descritos.
Jogos Vorazes também é um dos poucos livros que vi ter uma adaptação de respeito no cinema, uma vez que o filme respeita a integridade da obra da romancista, destaque deve ser dado à atuação da jovem atriz – já premiada pelo Oscar – Jeniffer Lawrence, que construiu com perfeição a personagem Katniss Everdeen, com respeito à obra e aplicando nuances de feminilidade e sagacidade a uma das mais bem-construídas personagens femininas da literatura mundial.

Aos que gostam de obras bem escritas e que levam a uma real reflexão dos contextos sociais aos quais estamos inseridos em nossa contemporaneidade, Jogos Vorazes é uma das melhores pedidas.





Egberto Vital
25 de novembro de 2013

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