Sucesso de crítica e
vendas, a cantora paulista não se acomoda no lugar comum, no mais do mesmo, é o
que nos prova o seu segundo disco de canções inéditas, Mais uma página, que emerge
com muita personalidade e originalidade depois do lançamento de dois projetos
ao vivo – Maria Gadú Multishow ao vivo e Maria Gadú e Caetano Veloso Multishow
ao vivo – subsequentes ao seu primeiro trabalho em estúdio, o Maria Gadú.
Mais uma página
surpreende logo do seu projeto gráfico, um encarte inovador e conceitual que
demonstra todo o bom-gosto da cantora e de sua produção. O disco é composto por
15 faixas, sendo 12 inéditas – a maioria compostas pela cantora, solo ou em
parceria – e três regravações – Anjo de guarda noturno, de Miltinho Edilberto, Oração
ao tempo, de Caetano Veloso, e Amor de índio, de Ronaldo Bastos e Beto Guedes. Em
três das faixas do disco, Maria Gadú divide os vocais com artistas convidados,
são os casos de Axé Acapela, com Dani Black – que também assina, no disco, a
canção Linha Tênue –, Quem?, que conta com a participação especial de Lenine, e
A valsa, em que Gadú apresenta ao Brasil o cantor português Marco Rodrigues.
É nítida sua evolução
vocal, e enquanto intérprete, Gadú (re)surge com mais frescor e leveza,
deixando de lado os excessos, típicos das cantoras “pós Ana Carolina”, e dando
lugar a uma interpretação com mais segurança e singularidade, em que podemos
perceber uma Maria Gadú com mais verdade do que aquela de dois anos atrás. É gostoso
ouvir o quão delicada está sua voz e o quão doce ela soa aos ouvidos, mesmo em
canções mais pungentes, como Axé Acapela, Reis e Quem?, a cantora consegue manter
a sedosidade de sua belíssima voz.
O disco revela
surpresas para aqueles que não acompanham de perto a carreira da cantora, que é
ouvi-la cantar em inglês – Like a rose, parceria de Gadú com Jesse Harris, que
divide com a compositora e Maycon Ananais a composição de Long long time – e em
espanhol – Extranjero, de Cassiano Correr e Maycon Ananais –, belíssimas
canções que demonstram toda a versatilidade e maturidade de um cantora que sabe
fazer bonito tanto em sua língua materna, quanto em outra língua.
Destaque especial deve ser dado ao “fado contemporâneo” A valsa – de autoria própria –, em que Gadú e Marco
Rodrigues dão uma verdadeira aula de dramaticidade e emoção, uma canção de uma
carga emocional profunda e tocante, desde o belíssimo arranjo à letra
milimetricamente bem construída.
A releitura do baião
Anjo de guarda noturno, de Miltinho Edilberto, é outro exemplo de como um
artista pode se renovar e se demonstrar autêntico, mesmo que gravando um
sucesso de outrem. A canção ganhou leveza e sofisticação, sem fugir às raízes
da composição original, em uma respeitável releitura do baião tradicional. O que
se repete nas regravações de Oração ao tempo e Amor de índio, em que Gadú nega
o que seria sua zona de conforto nos trazendo duas interpretações muito singulares,
o que é complicado, visto que as duas canções já foram muitas vezes
interpretadas por grandes nomes da música popular brasileira, o que, nitidamente,
não serviu de empecilho para ela imprimir identidade em suas versões.
Já Axé Acapela, de Dani
Black e Luiza Maita, primeiro single do disco, traz um ar de estranhamento, possui
um swing – não precisamente do Axé Music (como o título pode sugerir) –, porém
com um fundo de Jazz que mais se aproxima ao R&B contemporâneo – que sofreu
influências do Soul e do Funk –, muito comum na música pop, como em Rehab, de
Amy Winehouse. Uma canção muito gostosa de ouvir, radiofônica – distante da
acepção pejorativa do termo – e muito bem construída, acompanhada de um arranjo
riquíssimo e muito coerente com a proposta dos compositores. Uma boa escolha
para a primeira música de trabalho.
As belíssimas
composições da cantora são o ponto alto do disco e merecem maior relevo, o que
já era de se esperar da compositora de Altar Particular e Dona Cila. A faixa de
abertura é a belíssima No pé do vento, feita em parceria com Edu Krieger, que
assume a função de prólogo do disco, dando um rico aperitivo daquilo que vem
pela frente. Outra linda canção é Estranho Natural, uma valsinha que tematiza
um saudosismo ingênuo de um eu-lírico que deixou um amor perdido no passado de
sua infância, uma canção sutil e singela. Taregué, terceira faixa do disco,
pode até lembrar, para alguns, a conhecida Shimbalaiê, no entanto nota-se que a
pretensão de Gadú não era repetir um sucesso, ou aproveitar uma forma que deu
certo, pelo contrário, a letra de Taregué se distancia e muito do primeiro hit da cantora,
tanto em sua profundidade quanto em sua cuidadosa construção, talvez os
arranjos tragam essa lembrança, mas estes também se diferem bastante e mostram
o real amadurecimento da compositora, que também podemos perceber em sua
parceria com Ana Carolina e Chiara Civello, na belíssima Reis, que apesar de
trazer muitas das características da musicalidade Ana, tem impressa em sua
letra muito de Maria Gadú, uma letra visceral e instigante, sua interpretação está
simplesmente estonteante.
Maria Gadú prova em seu
quarto álbum – segundo de inéditas – que é uma artista que sabe se reciclar e
trazer cada vez mais sofisticação ao seu trabalho. Depois de seu disco de
estreia, a cantora/compositora tem mostrado grande potencial enquanto música, e
nos tem presenteado com uma obra completa. Mais uma página se torna um divisor
de águas na carreira da artista, por deslanchar em ares de disco experimental, pois
além de inovar cantando muito bem em idiomas estrangeiros, a cantora nos surpreende
ao experimentar em uma miscelânea de gêneros musicais que trazem ao disco muitas
cores e sensações. É um disco que, para quem gosta de boa música, é um prato
cheio de opções.
Maria Gadú nos trouxe
mais uma página de uma história que está apenas começando a ser escrita, mas
que traz em seus capítulos iniciais toda a riqueza de uma jovem compositora que
consegue transmutar fortes e verdadeiros sentimentos naquilo que canta e
compõe, agora é só esperar as cenas do próximo capítulo para nos surpreendermos
ainda mais com a obra dessa incrível e competente artista.
Egberto Vital
09 de fevereiro de 2012
belo post gato! Sinceramente acho q esse disco é um dos grandes trabalhos deste ano, na musica brasileira, de super bom gosto e voz impecável nosso rapaz tímido (vugo maria de kalú) tem me surpreendido cada vez mais! bjs.
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkk adorei o coment. Muito bom.
ResponderExcluirFazendo uma releitura no que eu ja havia postado em outro comentario de outro post, fiquei curioso quanto a este album, ou melhor, reformulando, fiquei curioso quanto à Maria Gadú. Minha avessão pelo clichê e pela cultura de massa não me permitiu parar e "degustar" o som desta garota. Até pq essa vibe pós tropicália nunca me agradou muito, numa das viagens à minha terra natal eu e meus irmãos compramos o DVD com Caetano na estrada e fomos assistindo. Imaginei que fossem dois caetanos no palco! Ou duas gadus! São praticamente, pra mim, identicos em termos de estilo, melodia, gênero... Não sei ao certo se isso, pra mim, é um ponto positivo e negativo. Mas... se Anacrônico me fez reavaliar tanto a Pitty quanto ao Admiravel Chip Novo e concluir que são trabalhos du kralho. Quem sabe Mais Uma Página me fassa repensar a ideia de me juntar ao Glee, e curtir M. Gadu? Bom a sua ótima resenha vai me influenciar e muito nisso!
ResponderExcluirparabéns!
Comentário conciso e coerente. Espero, mesmo, que passe a ver a Gadú com outros olhos, pois ela é muito boa, acho que o Mais Uma Página pode fazer isso com vc. Abraço.
ExcluirPARA MIM, MARCÍLIO ELVIS, NÃO DIGO QUE MARIA GADÚ SEJA MÁ ARTISTA POIS SERIA LEVIANO DE MINHA PARTE..!! MAS TAMBÉM NÃO TENHO VONTADE DE COMPRAR UM CD DESSA ARTISTA. ELA ME SOA IGUAL A MARISA MONTE ( DELA SOU FÃ ) E A ADRIANA CALCANHOTO ( NEM TANTO FÃ ). A MÚSICA DE GADÚ ME DÁ A IMPRESSÃO DAQUELAS "POESIAS DE GAVETA" DOS ADOLESCENTES...TUDO NA PAZ...CÉU AZUL...SEM CONTAS PARA PAGAR....BOM DIA SOL.!!....BOA NOITE LUA..!! SABE..?? ISSO DE CERTO MODO ME ENCHE...!! AGORA...ELA DEVE TER UMA LEGIÃO DE FÃS QUE SAEM DE CASA PARA COMPRAR SEUS CDS, DVDS,ETC E TAL...COISA QUE POR ENQUANTO NÃO IREI FAZER...!! ELA É UMA BOA MOÇA...BOA GENTE...AFINADA...MAS NÃO FAZ MEU GÊNERO. MAIS PARA FRENTE...TALVEZ...QUEM SABE..??!! OBRIGADO POR ME CEDEREM O NOBRE ESPAÇO..!! ( MARCÍLIO ELVIS-SOROCABA-SP-15 DE SETEMBRO DE 2013).
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