O veneno da Bruna Surfistinha sob a doce visão de um bom diretor


Com direção de Macus Baldini e estrelado por Deborah Secco, chegou aos cinemas brasileiros em fevereiro o tão esperado “Bruna Surfistinha – O doce veneno do escorpião”. Mais do que esperado, o filme é surpreendente, a começar pela escolha do elenco, passando pela belíssima trilha sonora e pela chocante atuação de Deborah Secco.
O filme é baseado no livro “O Doce Veneno do Escorpião”, escrito pela ex-garota de programa Raquel Pacheco, sob a alcunha de Bruna Surfistinha, personagem que ganhou fama na rede através de um blog que relatava todas as experiências sexuais de uma prostituta.
Seria mais um clichê do cinema brasileiro – sexo, drogas, prostituição e palavrão – não fosse a grande direção de Marcus Badini. O filme ficou denso, complexo, sensual, não pornográfico, belo e com fortes pitadas de drama.
A história da menina de classe média, adotada, que deixou a casa dos pais para se tornar garota de programa e, então, se transformar na célebre Bruna Surfistinha, é mais do que contada nesse filme, ela é vivida, e intensamente, graças a forte atuação de Deborah Secco, que me surpreendeu bastante, não esperava ver uma Deborah tão entregue a uma personagem como vi neste filme, ela consegue fazer você amar e odiar a Bruna Surfistinha. Sexy nas cenas de sexo, sem pender para a vulgarização, e muito completa nas cenas com drogas, em que a Deborah realmente mostra o drama de um usuário de cocaína. Ela consegue mostrar de uma maneira muito complexa, e sem pieguice, como a Bruna Surfistinha foi do luxo ao lixo dentro de poucos anos, desmistificando a ideia de que o filme seria uma glamourização da prostituição. É uma atuação mais do que convincente, é uma atuação incisiva, verdadeira, digna de uma Julia Roberts em Erin Brockovich ou, em proporções bem menores, é claro, de uma Angelia Jolie em Garota Interrompida ou em Gia.
Dados os louros à Deborah Secco, não posso esquecer-me de comentar a ótima atuação de Drica Moraes como dona do privê, ela realmente assumiu o papel da cafetina e fez bonito, bem como as atrizes que fizeram as outras garotas de programa, “colegas” da Bruna Surfistinha, as fantásticas Fabiula Nascimento, Cristina Lago, Simone Illiescu, Erika Puga e Brenda Lígia que compuseram o filme de maneira brilhante, contribuindo para a perfeita atuação de Deborah. Sem esquecer de Cássio Gabus Mendes, que interpreta Hudson, personagem baseada no primeiro cliente da Bruna que viria a se tornar o seu marido futuramente, que encaixou muito bem com a Secco.
Como eu já havia dito, a trilha sonora é impecável, de Radiohead à The Zombies, as canções compõem o sentido de glamour e, ao mesmo tempo, de melancolia que o diretor que passar com filme, as escolhas formam mais do que corretas. Indo do pancadão, com Robinho da Prata e o seu “Copo de vinho”, ao sensual com The Zombies e sua sensacional “Time Of The Season”. Belíssima é a última cena do filme, que termina com a Deborah Secco andando pelas ruas de São Paulo, embalada ao som da melancólica Fake Plastic Trees, do Radiohead, uma bela cena que condensa toda a intenção do filme. A trilha sonora se torna um espetáculo à parte, sem dúvida alguma.
Enfim, é um filme para ser visto e abstraído a partir daquilo que está além da história da Bruna Surfistinha, é um filme para ser visto pelas belas e surpreendentes atuações, pela maneira sobre como o diretor soube transpor a história para o cinema, sem cair em clichês comuns no cinema nacional, e, principalmente, para ser visto pelo viés arte cinematográfica, pela beleza que ele exprime em sua plasticidade.






Egberto Vital
16 de março de 2011

3 comentários:

  1. Bom.ainda não assisti,mas com essa narrativa critica,me entusiasma a conferir.Mesmo porque,cinema brasileiro, retratando droga e prostituição,sem ser pornografico;deve ser um grande filme.
    Abraços e saudações ao critico.
    Angelita Alves.

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  2. Realmente concordo com você quando diz: "Deborah tão entregue a uma personagem como vi neste filme, ela consegue fazer você amar e odiar a Bruna Surfistinha." Não esperava tanto desse filme, vale a pena assistir, pois provoca a discussão sobre a prostituição e drogas tão banalizados nos dias de hoje!

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  3. Quando fui ao nosso Multiplex ver o filme, este já havia saído de cartaz. Li parte da crítica que temia que o filme se convertesse em uma “glamourização da prostituição”, não sei o que pensar a respeito, só quando eu assistir. Por hora, uso o mais técnico dos termos: “Eu Pegava”.

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