"Existencial, visceral e cru!"

Tomo por título deste post, as palavras de uma amiga minha que definiu, com os mehores termos, o belíssimo conto “Flor de Outono”, de John Wayne, e, verdadeiramente, digo que ela está corretíssima. Um conto que revela toda a sensibilidade lírica de um jovem escritor (pensei em usar a palavra “aspirante”, mas seria injusto, pois ele é um verdadeiro escritor).
John é um velho amigo meu, o conheço desde criança, logo, conheço tudo o que ele escreve, e estou aqui para indicar a vocês, ele é estudante do curso de Filosofia na Universidade Estadual da Paraíba e desde sempre apresentou uma fortíssima veia para a Literatura, aqui mesmo no meu blog vocês encontrarão alguns poemas dele. Wayne também é autor do blog Hobby Of Writing onde vocês encontrarão outros contos fabulosos. Bem, não vou me alongar até porque o texto fala por si só, leiam e desfrutem de um bom texto Literário, espero que gostem e comentem:
_____________________________________________


Flor de Outono

Existem algumas coisas excessivamente desanimadoras na vida real. Ela dizia para o espelho em um monólogo fatídico.

A necessidade de aprovação nos dilacera e nos incomoda, assim como a necessidade de provar para si mesmo o nível de sua qualidade e seu potencial, levar-se aos extremos.

Com um olhar levemente triste e uma maquiagem pesada, ela ouvia música francesa enquanto acendia seu cigarro.

Após um dia como qualquer outro, coberto por pessoas dissimuladas e desprezíveis, depois de um dia de trabalho. A reflexão a leva para outro patamar, o universo interior, a esperançosa ideia de que: nós podemos ser algo mais do que essa infame casca vazia.

- Hoje preciso ser esquecida, preciso esquecer, então mesmo que eu beba o suficiente para um coma alcoólico, mesmo que eu tente ignorar, relevar e ser indiferente com os acontecimentos, tudo isso me magoa profundamente, todos os dias de minha existência sem propósito e substituível. Enquanto alguns estão sorrindo com as bobagens que não mais me comovem, enquanto alguns estão tão felizes por possuírem um amor ou qualquer espécie de relação afetiva; eu não sinto o mesmo entusiasmo para essas atividades.

Uma longa tragada, o batom em seus lábios deixa uma tonalidade vinho no filtro, a fumaça se esvai juntamente com a melancolia exposta em um quarto outoniço.

 - Vamos mulher, tente sonhar, tente mais uma vez abrir as portas das percepções, tente mais uma vez dar seu próprio significado a este mundo, lembre-se da neve ela é tão bela, lembre-se da água do oceano, lembre-se dos bons sentimentos, pare de lamentar, lembre-se que as estrelas ainda estão brilhando, que a música está soando em seus ouvidos.

Repetia para si mesma, passando a mão em seu próprio reflexo no espelho, acariciando sua face pálida, os longos cabelos cobrindo os seios e observando as lágrimas caírem e dividirem-se sozinhas.

Se fosse fácil, tão fácil assim, em questão de tempo ela superaria. O que houve com o calor humano? O que houve com a doçura da poesia? O que houve com a magia do cinema?

Essa não é mais uma historia de um coração partido ou solitário. É a historia de um ser independente das nomenclaturas usadas, das interpretações erráticas, dos significados e crenças convencionais.

-Por quê?

E o silêncio reina.

A indagação em busca de uma resposta para tamanha dor incompreendida.

Ela poderia suspender o juízo, poderia muito bem aceitar suas condições e continuar vivendo, poderia muito bem se enganar todos os dias até que aquilo se torne agradável.

- Não me importo.

Vai até a janela, olha para baixo, observa os carros passarem, as pessoas e a lua. O vento frio em seu rosto faz com que suas lágrimas sequem, e seus castanhos cabelos flutuem.

- Não posso mais.

A fragilidade, a repetição, a podridão mundana, as desagradáveis convivências, as mentiras, o ódio, a vaidade egocêntrica, um turbilhão psicológico a envolve.

Inquieta, procura comprimidos.

Dopa-se.

Anestesiada deita-se e uma voz interior grita desesperadamente por socorro.

Insatisfeita, com os olhos abertos fixados no teto e os lábios ressecados.

A insuportável sensação de ter que suportar.

A inercia e nada mais.

Adormece para um novo dia, e assim até que a contagem termine, é a historia que se repete, quando os sorrisos são lágrimas, os abraços são refúgios e as amizades são laços.

Ela acorda para mais um dia sem mudanças, para mais um dia que terá que suportar.

Suportar...

_____________________________________________


Esse é o belíssimo “Flor de Outono”, de John Wayne. Espiem o blog dele e conheçam os demais textos, pois é uma experiência verdadeiramente interessante.



Egberto Vital
23 de março de 2011

2 comentários:

  1. 'Escreviveu" totalmente cru que até materializei quem seria está mulher. Parabéns ao John!

    ResponderExcluir
  2. Estou besta! Não sabia que John escrevia, belíssimo texto! Parabéns e muito sucesso pra ele! :)

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...