Bem, mais uma vez sou obrigado a fugir um pouquinho do foco do blog. O fato que leva a isso é algo me incomodou muito, uma vez que ele atinge a liberdade de culto e, sobretudo, traz mais uma vez à tona o quão nosso país ainda está cheio de pessoas preconceituosas e arraigadas em tradicionalismos obtusos e incoerentes.
A pesar de ser um fato que se relaciona a esse período político em que estamos – coisa que muito me enoja aqui na Paraíba e no Brasil como um todo, pelo fato de que os candidatos preferem se agredir a mostrar suas propostas de mudança –, quero deixar bem claro para os meus leitores que aqui, NÃO estou me posicionando partidariamente. A minha proposta com este texto é uma reflexão em torno do preconceito religioso que ainda existe em um país que se diz tão plural e aberto.
Então, o que me levou a escrever para vocês hoje foi uma questão muito intrigante e que está me espetando como um espinho desde o início da semana, quando chegou até minhas mãos um panfleto em que algumas esculturas – diga-se de passagem, obras de arte – eram lidas de uma maneira bem tendenciosa e um tanto quanto forçada. As referidas obras foram colocadas em pontos estratégicos da cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, a fim de que a população tivesse acesso à arte dando a cidade um ar mais moderno de cultural, e presenteando os seus pontos turísticos com novos atrativos para atrair mais pessoas ao litoral paraibano.
Com o objetivo principal de incentivar a produção artística local, a Prefeitura Municipal de João Pessoa realizou um concurso (I Concurso Jackson Ribeiro de Arte Pública) que elegeu as obras que hoje compõem o cenário em pontos estratégicos da cidade: “As Bênçãos à Nossa Senhora das Neves”, de Marco Aurélio Damaceno, na giratória de Mangabeira; “Revoar”, em frente ao Bessa Shopping, no Bessa; “Sinergia”, de Sidney Azevedo, na Estação Cabo Branco; e “Cavaleiro Alado”, de Wilson Figueiredo, na giratória do Centro de Tecnologia da UFPB. A próxima a ser instalada será “Saudação ao Sol”, no Largo da Gameleira, Tambaú, de autoria de Erickson Britto. Por fim, a obra “Guardiã da Cidade”, de Evanice Santos, tomará o seu espaço – ainda não definido pela PMJP. Além da obra “O porteiro do inferno”, do artista plástico Jackson Ribeiro, homenageado no concurso por seu reconhecimento nacional nas artes plásticas, que foi deslocada de um canteiro situado entre a 1º Igreja Batista e o Liceu Paraibano para uma das giratórias da UFPB. Esta última anteriormente intitulada “O porteiro” teve o seu nome modificado pelo poeta Virgínius da Gama e Melo, como bem descreve o site da cidade de João Pessoa.
E foi a popularização desse novo nome que a última estátua recebeu, o estopim para o início de uma campanha que agride primeiramente os artistas que assinam as obras, pois tiveram sua arte jogada na lama suja das politicagens, coisa comum no Estado da Paraíba, e em segundo lugar, religiões afro-brasileiras que mais uma vez foram o foco de repúdio, intolerância, ignorância e preconceito.
O texto do panfleto, que você pode observar acima (clique na imagem para ampliar), já traz em seu título uma mensagem agressiva e preconceituosa às religiões de origem africana, como o Candomblé e a Umbanda, ao afirmar que estão ligadas a forças do mal. Infelizmente, a ignorância de quem produziu o texto não o leva a refletir sobre a verdadeira realização dessas religiões, que nem sequer têm uma secção entre o bem e o mal, uma vez que suas divindades são antropomorfizadas, os Orixás, neste sentido, são representados por figuras muito próximas do humano, assim, se torna incoerente afirmar que estas divindades pertencem a forças do bem ou do mal, pois elas possuem essas duas potências. Ignorância maior, observamos na leitura equivocada dos monumentos artísticos supracitados, em que seus títulos foram subvertidos ao “bem-entender” das intenções obscuras, tendenciosas e “criminosas” do indivíduo que divulgou o tal panfleto, uma vez que tais obras de arte nada se aproximam das representações conhecidas dos Orixás ou de qualquer outra entidade espiritual posta em questão, percebemos uma interpretação paupérrima que simplesmente revela a falta de leitura de quem a fez apoiando-se nos conceitos mais rasteiros do senso comum.
Está aí o meu desabafo e o meu protesto. É triste ver o quanto as pessoas que se propõem a nos representar, ainda estão soterradas no mais profundo fosso da falta de respeito pelas diferenças e pelas individualidades, e é por ser contra a qualquer tipo de repressão e segregação, que decidi postar isso para vocês, acho que não devemos ficar calados em relação a esse tipo de postura, o silêncio nos torna impotentes e vulneráveis, por isso devemos nos armar contra qualquer forma de intolerância. Combato hoje, se sempre, este crime cometido contra a liberdade e contra a arte. “Shalom, Salamaleico, Avôhai”!
Egberto Vital
É muito triste ver que este tipo de prática ainda faz parte de nossa política. E o pior mesmo é notar que certos conceitos de nosso povo remetem ao medievo. Enfim! Um dia contaremos isso aos nossos netos e eles não acreditarão!
ResponderExcluirTexto esclarecedor, que sem se posicionar partidariamente, assume importante perspectiva política e de crítica cultural.
ResponderExcluirPois é, também fico estarrecida com fatos dessa natureza, mais do que isso, fico intrigada com a quantidade de pessoas que ainda são ludibriadas por esse tipo de oportunismo político. Aí fico pensando, a democracia só será estabelecida com a conquista efetiva da educação, do pensamento reflexivo. Enquanto essa posse não for efetuada, continuaremos a viver a democracia longe de seu sentido pleno.
Venho através deste, também me manifestar contra qualquer tipo de preconceito e ou intolerancia de qualquer natureza, não devemos baixar a cabeça e aceitar esse tipo de coisa que só serve para empobrecer nossa cultura e confundir a cabeças de pessoas que estão em estado de aprendizagem e crescimento de nossa cultura.
ResponderExcluirQuero também ressaltar a brilhante persepção do autor do texto critíco, que enfoca com bastante riqueza e inteligência, os efeitos danozos do cartas. Pessoa essa que é capaz de ver intrinsicamente o que o outro é nos seu , seus anseios e desejos nos seus poemas e textos de tal forma inteligente e intelectual de alto nível que confesso tenho dificultade de compreender, de me aproximar do seu nível intelectual.
Me orgulho de ser um dos seus, parece que a junção dos Lima e Vital fez nascer um grande intelectual da literatura. Parabén pelos trabalhos literarios, queria eu ser dono de uma editora para imparcialmente elevar teu nome para os grandes da literatura, mas tenho certeza que você será mesmo que eu não possa ser esse olheiro.
Parabéns do seu admirador.
Grande Linho, muito me alegra saber q vc me achou pela net rsrsrsrs! Saudades de ti. Fico muito feliz de saber que gostas do q escrevo. E aind amais feliz de se um dos seus. Abraços.
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