Pitty lança um dos melhores discos de 2009


Lançado aos 10 de agosto, o disco intitulado “Chiaroscuro” – termo italiano que quer dizer “luz e sombra” ou, literalmente, claro e escuro –, é sem dúvida um dos melhores álbuns lançados no ano.

No disco a roqueira transita por vários estilos, um dos exemplos é a canção “Água contida” em que Pitty entrelaça rock com tango. Entretanto a baiana não deixa de lado sua essência roqueira, e mais rock’n’roll do que nunca, Pitty encerra o estilo do “faça você mesmo”, e foi muito bem feito.

Com arranjos sofisticadíssimos e letras de muita profundidade filosófica e existencial, “Chiaroscuro” assume o posto de obra-prima da artista, que desde de 2003, como lançamento do - também fenomenal - “Admirável Chip Novo” vem assumindo um espaço que antes era só de bandas masculinas. Saltando do universo underground para se tornar uma verdadeira herdeira do legado de cantoras como Rita Lee e Cássia Eller, porém com identidade própria e muita atitude, Pitty é uma mulher de a frente de uma banda muito promissora e com muita personalidade no Rock Nacional.

Deve-se dar destaque a faixa do álbum intitulada “Fracasso”, em que a compositora foi beber em uma famosa fábula de Esopo – A Raposa e as Uvas. Nessa canção, Pitty faz uma leitura fantástica da narrativa, e atribui ao fracasso o fato das pessoas não conseguirem o que almejam e desdenharem tanto daquilo que desejam e não conseguem alcançar: Mas vil é desdenhar do que não se pode ter /Vive tão disperso / Olha pros lados demais / Não ve que o futuro é você quem faz / Porque o fracasso lhe subiu a cabeça / Atribui o outro a culpa por não ter mais / Declara as uvas verdes mas não fica em paz / Porque o fracasso lhe subiu a cabeça.

O mesmo destaque deve ser dado à canções como “Todos estão mudos”, em que Pitty dialoga com o famoso conto “O Crovo”, de Edgar Allan Poe, e “Descontruindo Amélia”, em que a roqueira faz uma análise da função social da mulher nos contextos atuais, redescobríndo a famosa “Amélia” de Mário Lago e Ataulpho Alves.

Sem dúvida, este álbum consolida Pitty enquanto uma das melhores coisas que surgiram no Rock Brasileiro nos últimos 10 anos, criatividade e genialidade nas mãos daquela que foi tida como uma Barbie Gótica, Pitty dá uma “surra com luva de pelica” nos machistas preconceituosos que não acreditavam no seu talento.

Egberto Vital,

19 de agosto de 2009

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