A mulher de cinqüenta e alguns anos

Era pelo corpo na cruz que ela se masturbava
Aquele corpo esguio de europeu desnudo

Ela não podia transar com Cristo

- Não, ele é divino.
- Sim, porque ele é homem.

E imaginava os panos caindo
E imaginava tudo por baixo dos panos

Era tudo o que ela queria
O corpo masculino daquele europeu
Pendurado como carne no açougue
Representando o corpo-homem de Deus

E sob os olhos do Pai supremo
Protegida pela religião
Sua mão ela deslizava
Tocando parte por parte do seu corpo
Nua
Embriagada
Execrada pela luxúria
Liberta pelos desejos da carne

Não era com Cristo que ela sonhava
Nem com o Pai
Ou com o Espírito Santo
Era com os homens-santos
Com todos os corpos de homem

Corpos nus
Corpos que nunca havia sentido
Pesar sobre o seu corpo gasto
Sobre seu corpo casto
De mulher de cinqüenta e alguns anos.


(Egberto Vital)

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