Dando a cara pra bater...



Depois de acabar a dupla com o seu irmão e passar dois anos longe da mídia e dos fãs, Sandy volta em alto estilo. Sai, enfim, o “Manuscrito”, um disco repleto de letras muito bem construídas e arranjos muito bem elaborados, bem longe do estilo teen-pop que a cantora (e também compositora) vinha seguindo em dupla com Junior.
O cd abre com uma música que de longe poderia ser a melhor do disco, a já tão falada “Pés Cansados”, escolhida pela cantora para ser o primeiro single do álbum. Em seguida entra a “Quem eu sou”, uma baladinha romântica que tem tudo para se tornar single, uma letra mais intimista que fala de procuras e descobertas, o arranjo carrega nas guitarras no qual desliza a voz leve de Sandy. A terceira canção é “Tempo”, bem mais suave e subjetiva, em que os medos e fracassos são revelados em um tom confessional. O disco segue com “Ela/Ele”, uma letra bem prosaica com um ar saudosista, descreve a vida de um casal que se conheceu no inverno de 2002, dá a impressão de que existe uma forte identificação entre a canção e vida da cantora. A quita faixa é “Dedilhada” que traz um ar um pouco country nas pegadas do violão, uma letra que fala de erros passados que servem de parâmetro para comportamentos futuros, uma canção bem “popezinha”. Logo após entra “Sem Jeito” a música mais radiofônica do disco, uma pegada bem Pop Rock, com muitas guitarras e uma letra bem ousada, em que percebe-se claramente que a menina cresceu e que seus questionamentos são outros agora: “Dou nome aos nossos filhos e o seu eu mando tatuar, só depois eu para o vejo que você serve pra mim”. É então que entra a música mais poética do cd, “Duras pedras”, em que as dificuldades de viver são expostas, porém não são empecilho para conseguir a felicidade: “Piso as duras pedras pra entrar no mar, mas a calma da água ao beijar minha sede pela paz, me eleva”. Em “O que faltou ser”, oitava faixa, as fraquezas são expostas frente à perda de um amor, uma letra gostosinha de ouvir na suave voz da cantora que dança nos belos arranjos da canção. Já a nona faixa do álbum traz uma Sandy mais passional, que se entrega ao instinto de amar e de sentir “Perdida e Salva”. “Dias iguais” é a faixa que traz a esperada parceria com a cantora britânica Nerina Pallot, essa canção lembra muito o estilo de cantoras como Alannis Morrissette, uma letra um tanto depressiva, que dá a impressão de um dia nublado, bela letra, e mais bela ainda a interpretação das duas cantoras que dividem os vocais (Sandy cantando a letra em português e Nerina em Inglês). A tensão é quebrada com a linda “Mais um rosto”, que lembra muito o estilo da canção “Abri os olhos”, lançada no último trabalho da cantora em dupla, cheia de questionamentos de sua posição no mundo. “Tão Comum”, outra letra muito midiática e que tem tudo pra tocar muito bem nas rádios, traz um arranjo bem pop e gostoso que dá vontade de dançar, a voz de Sandy está muito bem harmonizada com o som das baterias e das guitarras, uma letra cheia de atitude em que a cantora diz: “Só sei que eu espero que vida me mande algo bom. Só sei que eu não quero cantar minha trilha fora do tom.”. E por fim, o cd termina com a singela “Esconderijo”, que fala de um menino que precisa de carinho e atenção, a faixa mais curta do álbum, com apenas um minuto.
Quem falou que o cd da Sandy seria algo previsível e infantil - como eu, outrora - deve dar a cara pra bater, e ainda oferecer o outro lado. Ela, enfim, se consolidou como uma grande artista, pois acaba de lançar o cd mais sofisticado e sóbrio de sua carreira. Este é o “Manuscrito” da Sandy, um disco cheio de atitude e muito imprevisível. E quem esperava o ranço adolescente de antes, pode esquecer, não vai encontrar neste trabalho.



Egberto Vital

Um comentário:

  1. Professor Vital,

    obrigado pelas palavras no Cemitério das Celebridades que muito me honram.

    Apesar das hordas sazonais de vândalos do idioma que ali vão exercitar sua baixa auto-estima, o senhor não imagina minha alegria por tomar conhecimento que, em contrapartida, aquele espaço tem crescido no conceito de um número cada vez maior de formadores de opinião, como também é o caso dos educadores.

    Infelizmente, o comportamento de manada não permite que a grande maioria dos que ali se manifestam contrariamente consiga entender a fina ironia que permeia toda a proposta daquela iniciativa que procura se mater altiva.

    Não lamento que se manisfestem contrariamente ao que penso e expresso, mas sim, por que nem sequer alcançam o que se diz.

    Professor, será que é equivocada a minha abordagem no que tange ao uso do idioma ou de fato caminhamos a largos passos rumo a escuridão das cavernas?

    Saudações!

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