Rock’n’roll de saia e coturno: do underground para mainstream

Saltando do universo underground para mainstream, porém com muita personalidade e elaboração artístico/musical, Pitty se mostra como uma verdadeira herdeira do legado de cantoras como Rita Lee e Cássia Eller: é uma mulher, de fibra e talento, a frente de uma banda muito promissora e com muita identidade.

Desde o seu surgimento nos anos 50 até as décadas atuais, o rock apresenta poucas mulheres a frente de bandas, mesmo em épocas de total subversão de valores preestabelecidos como nos anos 60/70, a aparição das mulheres sempre foi, de certa forma, inibida por conceitos machistas, a pesar de toda a ideologia de igualdade e liberdade que encerra o estilo musical.

Porém, esses tabus viriam a ser quebrados com Janis Joplin que encarnou o verdadeiro estilo do “sexo, drogas e rock’n’roll. No Brasil, Nora Ney foi a responsável por introduzir, nos anos 50, o rock na música brasileira. Daí o estilo tomou força e se tornou um dos estilos mais tocados no país, tendo como representantes femininas cantoras como Rita Lee, Elis Regina, Cely Campelo, Wanderléa e Baby do Brasil entre as décadas de 60 e 70. No entanto, é nos anos 80 e 90 que acontece uma verdadeira explosão de mulheres nos vocais de bandas de rock ou até mesmo de maneira solo. Daí surgiram Cássia Eller, Paula Toller, Marina Lima, Dulce Quental, e mais atualmente Pitty.

Esta última vem ocupando o cenário musical brasileiro com suas letras críticas e de muita profundidade filosófica e existencial. Desde o lançamento do disco “Admirável chip novo”, a cantora vem se apresentando em uma crescente, a cada disco lançado a evolução é nítida. A cada novo álbum apresentado pela baiana (e isso é mais um ponto a ser enfatizado, pois na Bahia não há uma tradição no estilo, e Pitty conseguiu se afirmar muito bem, sem perder suas identidades) os questionamentos se tornam cada vez mais profundos e construídos, isso é visto perfeitamente em álbuns como “Anacrônico” – em que Pitty divaga sobre o universo existencial da desfragmentação do sujeito –, e no, recentemente lançado, “Chiaroscuro” – em que a cantora transita por vários estilos musicais como o tango, porém sempre mantendo suas características fundamentais enquanto artista de rock.

Pitty consegue aferir e afirmar sua essência roqueira, e mais rock’n’roll do que nunca, encerra o estilo do “faça você mesmo”, e faz muito bem. Com uma obra densa, ela se lança no universo midiático, se vestindo de uma estética mercadológica, para ao mesmo tempo, criticar o mercado e a coisificação do homem. Pitty é ao mesmo tempo moderna e anti-moderna.

Sem dúvida, hoje Pitty se consolida enquanto uma das melhores coisas que surgiram nos últimos 10 anos na música brasileira. Criatividade e genialidade nas mãos daquela que foi tida como uma “Barbie Gótica”, Pitty desconstrói paradigmas machistas e preconceituosos dos que não acreditam que Rock pode ser feito, e muito bem feito, por mulheres.

Egberto Vital

04 de agosto de 2009

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